Quero, aqui, argumentar sobre um texto bíblico bastante utilizado por homossexuais e simpatizantes da causa. Antes de mais nada, preciso confessar-me um militante da causa. Sou totalmente favorável aos direitos de todos, das minorias, dos diferentes, dos oprimidos... Favorável, inclusive, ao direito dos homossexuais de poderem ter acesso a todos os recursos necessários caso queiram largar a prática. Lembrando que existem as mais diversas interpretações para aquilo que se compreende como direitos. Por isso, preciso esclarecer que neste texto vou tratar da questão sobre o homossexualidade no contexto religioso cristão que se refere ao pecado. Pois, apesar de muitos homossexuais e simpatizantes não confessarem a fé cristã, aqueles que buscam legitimação para a prática no contexto cristão costumam também argumenta a partir da Bíblia.
Esclareço ainda que se em algum momento pareço exagerar ou utilizar ironias não é de forma alguma para ridicularizar, mas, para tentar dar força e clareza ao argumento. E, obviamente não posso aqui escrever um tratado sob o risco de ninguém ler. Então, considerem o fato de não ter entrado em maiores detalhes. Permaneço, no entanto, à disposição para eventuais questionamentos e pedido de esclarecimentos.
O texto em questão é João 8. 1-11.
Jesus, porém, foi para o monte das Oliveiras.
Ao amanhecer ele apareceu novamente no templo, onde todo o povo se reuniu ao seu redor, e ele se assentou para ensiná-lo.
Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar em pé diante de todos
e disseram a Jesus: "Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério.
Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o senhor, que diz? "
Eles estavam usando essa pergunta como armadilha, a fim de terem uma base para acusá-lo. Mas Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo.
Visto que continuavam a interrogá-lo, ele se levantou e lhes disse: "Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela".
Inclinou-se novamente e continuou escrevendo no chão.
Os que o ouviram foram saindo, um de cada vez, começando com os mais velhos. Jesus ficou só, com a mulher em pé diante dele.
Então Jesus pôs-se de pé e perguntou-lhe: "Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou? "
"Ninguém, Senhor", disse ela. Declarou Jesus: "Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado". (João 8. 1-11)
Por que esse texto, na minha leitura, é utilizado de forma equivocada como argumento na discussão sobre a questão homossexual?
O caso relatado nos revela que os escribas e fariseus trouxeram a Jesus uma mulher que fora flagrada em adultério. O Adultério era considerado pecado nos tempos bíblicos e assim o é até os dias de hoje.
Os fariseus na verdade estavam pouco interessados naquela mulher. Eles estavam mesmo é interessados em fazer uma 'pegadinha' pra Jesus. Pensavam que Jesus teria apenas duas opções e qualquer uma delas o incriminaria. Ou porque Jesus se colocaria contra a lei de Moisés ou porque iria contra a lei do império romano.
Jesus demonstra, com a sua atitude, que além de conhecer a natureza humana melhor do que ninguém, Deus ama e acolhe apesar do pecado.
Isso, no entanto, não significa que o adultério deixa de ser pecado. Tanto que o texto não está completo nessa narrativa se formos somente até o verso 7 ou, mesmo até o verso 10. Uma boa exegese e uma boa hermenêutica pedem que o texto seja considerado em sua totalidade.
Portanto, o fato que principalmente torna complicado a utilização desse texto na argumentação homossexual recorrente é que adultério era e é considerado pecado. Creio que ninguém discorda disso.
Já a homossexualidade, embora que fosse considerado pecado no período bíblico e pela igreja (ou pelos cristãos) até bem recentemente (e, para a maioria, continua sendo), é hoje reivindicado como algo de que se pode orgulhar. Bem diferente do caso de adultério. Ainda não existe, pelo menos que eu saiba, nenhuma parada do orgulho adúltero. A questão, então, é que existe uma diferença de 'natureza' nas duas 'acusações'. Embora os fariseus estivessem testando Jesus e pouco interessados na vida daquela mulher e, Jesus com sua atitude tivesse desmascarado a hipocrisia destes, ninguém nega o fato de que o adultério é pecado. Se não fosse, Jesus não poderia jamais ter lançado contra os acusadores o argumento: "Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela" (verso 7). A partir do argumento de que estavam apresentando a Jesus uma pecadora (flagrada em adultério) é que Jesus dá essa resposta.
No caso da homossexualidade, não sendo pecado, os fariseus sequer poderiam usar um homossexual como 'isca'. E, vejam, estou apenas tentando raciocinar do ponto de vista daqueles que argumentam que a homossexualidade não é pecado. Que trata-se simplesmente de preconceito de religiosos fanáticos.
Agora, se admitirmos que a homossexualidade é sim pecado, então precisamos também admitir que Jesus assim o considera se quisermos continuar a usar o texto de João 8. 1-11. E, a pergunta inevitável é o que significam as palavras de Jesus no verso 11: "vai-te, e não peques mais".
De acordo com a argumentação utilizada pelos militantes gay, a prática da homossexualidade não é pecado, logo, Jesus não pediria algo assim. Então, mais uma vez, esse texto não serve à argumentação. No caso da mulher adúltera, dificilmente podemos imaginar que ela tenha entendido algo diferente do que 'vá e não continue nessa prática do adultério'. O texto não revela em nenhum momento que ela tenha contestado os fariseus ou mesmo a Jesus. Ela não tentou se defender e parece que ninguém mais ousou fazê-lo. Seria incorrer em pura conjectura tentar achar que tratava-se uma falsa acusação (A acusação de adultério só se tornava legal quando confirmada por pelo menos duas testemunhas. Ver Deuteronômio 19. 15). Até mesmo porque, repito, o adultério era, sim, pecado como, acredito, todos continuamos acreditando que seja. Sabemos também sobre a cultura machista da época e que sequer menciona o homem que foi, portanto, igualmente adúltero. Mas, isso em nada interfere naquilo que estamos tentando demonstrar aqui.
O fato é que os homossexuais procuram se utilizar de um texto em que se acusa uma pessoa flagrada num ato considerado pecado comparando-o e aplicando-o com um ato que não é pecado. Pelo contrário, é algo perfeitamente legítimo, do que a sociedade deve, inclusive se orgulhar, afinal, nada mais é do que demonstração de amor.
Portanto, não há como utilizar esse texto sem considerar o homossexualismo pecado e, se assim o for, aceitar a exortação final de Jesus "vai-te, e não peques mais". Agora, se o homossexualismo não é pecado, esse texto deveria ser abandonado para justificar-se. A menos que se cometam verdadeiras distorções e se fantasie em cima. Isso porém, não seria nada honesto com o texto e nem mesmo com a tradição cristã no que se refere à leitura e à interpretação dos textos sagrados.
Obviamente aqueles que consideram o homossexualismo pecado, continuam tendo que ouvir de Jesus: "Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra". Agora, para aqueles que dizem que o homossexualismo não é pecado, essa fala de Jesus não faz o menor sentido, tampouco o "vá e abandone sua vida de pecado".
Concluo, então, compreendendo que só existem duas opções diante desse texto caso queira-se continuar lançando mão dele pra argumentar nesse contexto: ou o homossexualismo é pecado e admite-se honestamente refletir sobre o que Jesus quer dizer com o verso 11. Ou, o homossexualismo não é pecado e abandona-se definitivamente este texto por não se aplicar ao caso.
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