O seguinte texto foi traduzido por Ricardo Otake do material sobre Teologia Bíblica e Vocação de Darrow Miller.
Deus fez a humanidade para ser fazedor de cultura, e o tipo de cultura que criamos é extremamente importante. Seja lá qual for nossa vocação, ou qualquer que seja o domínio que fomos chamados, como Cristãos nosso trabalho é criar uma “cultura do reino” – cultura que reflete a verdadeira natureza e o caráter de Deus.
Nossa responsabilidade como criadores de cultura tem sido chamada de mandato à criação e mandato cultural. Podemos encontrar estes mandados na narrativa da criação em Gênesis 1:26-28:
Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem conforme nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão.
Deus os abençoou e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra”.
Lemos aqui que do alto da sua atividade criativa, Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem”. Com essas palavras, a identidade do homem é estabelecida. O homem é feito imago Dei – à imagem de Deus. Deus também disse “Dominem !”. Com essas palavra, o propósito do homem foi estabelecido. O homem foi feito para dominar no lugar de Deus, como um vice-regente. Ou usando uma figura diferente, o homem foi feito para ser o mordomo da casa de Deus.
O que Deus fez era perfeito, mas não estava terminado Deus é o criador primário; a humanidade, fazendo uma citação de J. R. Tolkin é uma criadora secundária. Deus fez a criação primária. A humanidade faz a criação secundária – cultura – que revela e glorifica o Criador Primário e a criação primária. Seres humanos devem encher a terra com imagens de Deus que irão consequentemente desenvolver a terra. Como um semente, a criação as mãos de Deus era perfeita e completa em si mesma, mas o potencial precisava ser liberado pelo homem e pela mulher. O semente precisava ser nutrida até uma grande árvore.
Cultura: Adoração Externalizada
Porque as escrituras de Gênesis se referem a um mandado cultural ? O que significa criar uma cultura ? E o que é cultura ?
O Teólogo Henry Van Til diz muito claramente e concisamente : “A cultura é uma religião externalizada”. Na sua essência, cultura é uma manifestação de um culto de pessoas ou sua religião cívica. É um reflexo do deus que eles adoram. Este entendimento se coloca em contraste com o discurso de um pensamento materialista moderno, onde a cultura é um reflexo de a raça de um povo, ou da soma total da forma de viver de um povo, ou da sua herança. Segundo Santo Agostinho o entendimento da natureza da cultura traz luz à importância dessa distinção.
“De acordo com Agostinho, a cultura não é o reflexo da raça de um povo, etnicidade, folclore, política, língua ou herança. Ao invés disso, é uma síntese da crença de um povo. Em outras palavras, cultura é a manifestação temporal da fé de pessoas. Se uma cultura começa a mudar, não é por causa de modismos, ou passagem do tempo, é por causa de uma mudança da cosmovisão. Portanto, raça, etninicidade, folclore, políticas, linguagens, ou herança são simplesmente uma expressão de um paradigma mais profundo, enraizado no entendimento espiritual de uma igreja na comunidade e na integridade de suas testemunhas.
A razão porque ele passou tanto tempo da sua vida e ministério criticando as filosofias pagãs do mundo e expondo as teologias berrantes da igreja, foi porque Augustinho entende não apenas que essas coisas importavam não apenas na esfera da eternidade, determinando o destino espiritual das massas da humanidade mas também na esfera do aqui e como determinamos o destino temporal de civilizações inteiras.”
Agostinho reconheceu que a cosmovisão dominante das pessoas inevitavelmente dá forma ao mundo que elas vêem. Ele entendeu que a cultura é uma manifestação da adoração do homem. É um reflexo da natureza e do caráter daquele quem ele adora. Ou de uma maneira diferente, cultura é uma manifestação da cosmovisão de um povo.
O Taliban no Afeganistão criou uma sociedade que reflete a adoração deles. Da mesma forma, a cultura popular dos EUA é um reflexo dos ideais materialistas de um sistema de crenças secular.
O conceito moderno de antropologia, que foi derivado de um pensamento materialista, enxerga a cultura como neutra. No paradigma materialista, não existe Deus portanto, não existe verdade absoluta; tudo é relativo. A partir deste conjunto de pressupostos não existe como uma pessoa ou cultura criticar a outra e portanto, a cultura é valorizada pelo que ela é. Portanto, não podemos fazer distinção entre os campos de morte da Alemanha nazista, os hospitais da Madre Teresa de Calcutá ou a cultura pop contemporânea na América.
Derivada da adoração, a cultura pode ser qualquer coisa menos neutra. Cultura se situa na convergência das esferas espirituais e materiais. Na verdade, pode-se dizer que a esfera espiritual influencia a esfera física do ponto de vista de cultura. Assim com idéias têm conseqüências, nossa adoração também. O culto lidera a cultura. Isto determina os tipos de sociedades e nações que vamos construir. Isto é claramente ilustrado. Se um povo adora um deus que é cheio de caprichos e pode ser “comprado” como o animismo primitivo, então a cultura de corrupção é estabelecida e a propina passa a ser parte da vida cotidiana. Isto se manifesta nos negócios, economia, governo, e sistemas judiciários que estão cheios de corrupção. Isto leva ao empobrecimento material de uma nação e também ao empobrecimento espiritual.
Criticando Culturas
Claramente a cultura não é neutra. Uma vez que vivemos num universo criado pelo Deus vivo e porque existe uma realidade absoluta (ao contrário do pensamento pós-moderno), a cultura de um povo pode ser criticada e avaliada. Não apenas pode ser, mas PRECISA ser. Se estamos interessados em curar as nações, precisamos distinguir coisas que levam à injustiça e as que levam à corrupção. Precisamos examinar as coisas que elevam a liberdade, compaixão e economia e bem estar, em contraste com aquelas que levam à escravidão, crueldade e pobreza.
Existem 3 dinâmicas culturais: cultura do reino, cultura da enganação e a cultura natural. Essas são encontradas em diferentes níveis em todas as nações.
Cada nação terá um pouco da cultura da enganação e a cultura do reino. Estas dimensões assumem que existe um Deus e que ele fez um universo real e objetivo. Existe verdade e mentira, bom e mau, beleza e trevas.
Cultura do Reino
A cultura do reino é baseada na verdade da realidade. É um reflexo da natureza e caráter do Deus vivo e criador de todas as coisas. A cultura do Reino é produzida quando pessoas obedecem às leis de Deus consciente ou inconscientemente. As leis de Deus são um reflexo do Seu caráter. Assim como Deus é Verdade, Justo e lindo, assim é sua criação e as leis que a governam.
Quando Jesus diz aos discípulos para fazerem discípulos de todas as nações, “ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei” (Mt28:20) a frase “tudo o que eu lhes ordenei” é associada a VERDADE (que refletem leis metafísicas e físicas de Deus), justiça (que reflete as leis morais de Deus), e beleza (que reflete as leis estéticas de Deus). Douglas Jones e Douglas Wilson descrevem esta trilogias como “as três faces da cultura”. Esses são os fundamentos da cultura do reino, e levao à vida, saúde e desenvolvimento.
A cultura do reino é uma manifestação do reino de Deus. Jesus chama seus discípulos para que o reino dos céus cause um impacto no reino da terra. A oração do Pai nosso (Mt 6:9-13) reconhece o inter-relacionamento entre os dois reinos”Venha teu reino; seja feita tua vontade, assim na terra como no céu” O reino de Deus é qualquer esfera onde “sua vontade é feita” e onde as pessoas “obedecem a tudo o que lhes ordenei.” O reino de Deus vem à terra como no céu. A substancia do reino é a mesma no presente e no futuro, na terra e no céul. A diferença não é a substância, mas o grau de realização.
A cultura do reino chama cada pessoa e nação para fazer parte do Reino de Jesus, (fazendo referência a C.S. Lewis). Ela nos chama para o desenvolvimento da terra, o cultivo do solo e da alma como um ato de adoração ao Deus vivo. A igreja, como um ato de adoração deve criar uma cultura que manifesta a natureza e o caráter do Deus vivo no mundo. Isto significa que devemos trazer verdade (a metafísica bíblica), justiça (a ética bíblica) e beleza (a estética bíblica) em todas as áreas da vida.
Em cada nação haverão elementos da cultura do reino. Seja lá onde for encontrada, deve ser nutrida e encorajada.
Cultura da Enganação
A cultura da enganação é o produto das crenças nas mentiras de Satanás sobre o que é verdade, justiça e beleza; Satanás é um mentiroso e o pai da mentira. Ele mente tanto para indivíduos como para nações. Ele mente para nações na esfera da cultura. A cultura do engano é baseada nas mentiras de Satanás e nas influências dos demônios. Isaías alertou a nação de Israel contra a distorção da realidade.
“Ai dos que chamam mal bem e ao bem, mal, que fazer das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo!” (Is 5:20)
A crença nessas mentiras que leva à morte, escravidão e empobrecimento de nações inteiras. Cada nação possui algum nível de cultura de enganação. Se a nação quer crescer na saúde, ela deve identificar os elementos destrutivos, retirá-los e substituir por princípios do Reino.
A Cultura Natural
Os elementos naturais de uma cultura caem na esfera amoral. Eles são as cores únicas, texturas, sons e gostos de um povo que acompanham a ordem da criação. Como são moralmente neutros, ele garantem sabor e vida para o povo e para a alegria os vizinhos de outras culturas. Quanto mais a cultura manifesta o Criador Primário e a criação primária, mais vai ser considerada boa. Quanto mais a realidade é distorcida, mais enegrecida a cultura e o povo será mais escravizado e empobrecido.
Deus nos criou para sermos fazedores de culturas. Como cristãos fomos chamados para sermos intencionais sobre criar a cultura do Reino. Ao nos fazer à sua imagem, e nos criando para sermos criadores, Deus deu a cada um de nós uma responsabilidade e uma oportunidade maravilhosa. O erudito, escritor e promotor do desenvolvimento Vishal Mangalwadi expressa isso de uma maneira apropriada:
Deus fala e cria o universo. O homem fala e cria a cultura que dá forma ao universo.
Texto adaptado do livro de Darrow Miller sobre Teologia e Vocação a ser publicado pela YWAM publishing.
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